Anorexia e Bulimia

 

O ser humano tem algumas necessidades biológicas inerentes à sua sobrevivência, como a respiração, o sono, a alimentação, entre outras. Algumas destas necessidades são satisfeitas automaticamente (como a respiração), outras requerem uma actividade específica que é despoletada por sensações corporais (como por exemplo, a sede e a fome requerem que a pessoa actue no sentido de saciar estas necessidades, bebendo e comendo). A forma como as pessoas saciam estas necessidades varia. Algumas pessoas comem apenas para satisfazer esta necessidade, outras também porque lhes dá prazer, levando-as a ingerir em excesso ou a consumir alimentos que em quantidades abusivas podem ser prejudiciais para a saúde. Porém há quem tenha o comportamento oposto, restringindo a sua alimentação de tal modo que pode levar a consequências graves.

O corpo humano também varia na forma como absorve os alimentos: algumas pessoas podem comer muito e isto não se reflectir no peso, outras podem comer menos e no entanto ganham peso mais facilmente. Apesar desta variabilidade genética existem características corporais específicas para homens e para mulheres. Os homens têm mais tendência para acumular gordura na zona do abdómen, as mulheres nas ancas, coxas e nádegas. Estas diferenças estão relacionadas com a função reprodutiva, ou seja, a acumulação de gorduras na mulher é essencial para que seja menstruada e possa engravidar.

 

Actualmente observa-se um distanciamento entre a biologia da espécie e os padrões de beleza femininos. Deste modo, é a negação do que é natural do feminino que vai ganhando força como modelo vigente na nossa sociedade.

 

No entanto a realidade biológica feminina nem sempre esteve tão distanciada dos padrões de beleza. Até ao séc. XX a imagem do corpo feminino nas sociedades ocidentais manteve-se com um ideal de formas redondas (e daí o ditado popular “Gordura é formosura”).

 

A ideia de que a gordura era um sinal de saúde e de beleza foi sendo abandonada e substituídas por um ideal de magreza instituído pela televisão, moda, cinema e outros meios de comunicação. Este ideal está de tal modo desfasado da realidade que provoca nas mulheres um sentimento de descontentamento com o seu próprio corpo por este não corresponder aos padrões estabelecidos. Este fenómeno leva a que muitas mulheres adquiram comportamentos alimentares disfuncionais, que podem originar patologias como a anorexia e a bulimia. As mulheres são mais vulneráveis a este tipo de perturbações, que ocorrem dez vezes mais no sexo feminino do que no sexo masculino, daí que nos referiremos a estas ao longo do texto.

 

A anorexia desenvolve-se maioritariamente durante a adolescência (mais frequentemente entre os 14 e os 19 anos), enquanto que a bulimia tende a aparecer no final da adolescência (por volta dos 20 anos).

 

O que é a anorexia?

 

A anorexia é uma perturbação alimentar caracterizada pelo facto de a pessoa afectada ter um desejo irreprimível de estar magra. Em consequência desta ideia, resiste a comer e/ou serve-se de todos os meios para não reter o que comeu. Actualmente, constitui um dos problemas que mais preocupa a população em geral. É mais que provável que exista um caso deste no seu círculo de amigos e conhecidos.

 

As principais características da pessoa anoréctica são:

  • Perda de peso excessivo (pelo menos 25% do peso normal);
  • Preocupações com o peso, alimentação, calorias, alimentos gordos e dietas que se tornam prioritárias;
  • Recusa da ingestão de certos alimentos;
  • Comentários frequentes acerca de se sentir gorda ou com peso a mais, apesar da perda de peso;
  • Ansiedade extrema a propósito da possibilidade de ganhar peso ou de ser gorda;
  • Negação da fome;
  • Desenvolvimento progressivo de rituais alimentares;
  • Desculpas persistentes para saltar refeições;
  • Regime de exercício excessivo;
  • Retirada das actividades habituais e do grupo habitual de amigos.

Os factores que tornam a pessoa mais vulnerável ao desenvolvimento desta perturbação podem ser são os seguintes:

  • Factores Psicológicos – perfeccionismo, introversão, instabilidade emocional, conformismo, necessidade constante de aprovação por parte dos outros, necessidade em manter o controlo, identidade pessoal perturbada, auto-imagem perturbada, fraca auto-confiança, elevado sentido de responsabilidade, fraca auto-estima e raiva e revolta reprimidas.
  • Factores Familiares – famílias super-protectoras, exigência excessiva sobre os filhos, conduta rígida dos pais, dificuldades na resolução dos conflitos, mãe dominante e valorização excessiva da imagem social.
  • Factores Sócio-culturais – pressão publicitária, mudança do estatuto da mulher na sociedade ocidental (exigência de requisitos de beleza física), importância dada à magreza como a única forma de parecer saudável e atraente, culto do corpo.

 

O que é a bulimia?

 

Esta perturbação é mais frequente em pessoas com obesidade ligeira ou moderada e aparece associada em muitos casos à anorexia. Caracteriza-se tal como na anorexia por um medo excessivo de ganhar peso, controlando-o através de métodos purgativos (vómito, uso de laxantes), mas geralmente mantendo o peso original.

 

As principais características da pessoa bulímica são:

  • Episódios durante os quais a pessoa ingere grandes quantidades de comida em pouco tempo, geralmente em menos de duas horas. Acontecem geralmente uma ou duas vezes por semana e de forma oculta e secreta;
  • Sentimento de falta de controlo sobre a comida;
  • Grande preocupação com o peso e a figura;
  • Dietas muito rigorosas entre dois episódios;
  • Vómitos e uso de laxantes e diuréticos, jejuns ou prática de muito exercício para evitar o aumento de peso;
  • Humor depressivo e sentimentos de culpa;
  • Pode adoptar comportamentos sexuais promíscuos, consumir abusivamente álcool e drogas e/ou efectuar compras excessivas.

Os factores que tornam a pessoa vulnerável ao aparecimento desta perturbação podem ser os seguintes:

  • Medo de estar gordo e de não seguir os cânones sociais.
  • Prática de regimes ou dietas sem resultados palpáveis.
  • Stresse profissional ou pessoal.
  • Pouca auto-estima e auto-confiança.

 

Consequências presentes na anorexia e na bulimia

 

Físicas:

 

Restrição Alimentar

Indução do vómito e uso de laxantes

  • Alterações do sono (insónias e pesadelos);
  • Obstipação (prisão de ventre);
  • Mãos e pés gelados;
  • Excesso de penugem na face, braços ou outras partes do corpo;
  • Pele seca com coloração acinzentada ou amarelada;
  • Fragilidade óssea;
  • Anemia;
  • Irregularidades no ciclo menstrual ou perda do mesmo;
  • Fadiga;
  • Desmaios e vertigens;
  • Défice no sistema imunitário;
  • Perda da massa muscular;
  • Morte.
  • Irregularidades do ritmo cardíaco;
  • Lesões nos rins e no fígado;
  • Cáries;
  • Ruptura do esófago;
  • Ataques epilépticos;
  • Face inchada;
  • Dores de barriga persistentes;
  • Dedos inchados;
  • Lesões nos músculos intestinais.

 

Psicológicas:

  • Dificuldades de concentração;
  • Dificuldades de raciocínio;
  • Depressão;
  • Sensação de perda de controlo;
  • Ansiedade e dúvida acerca dos méritos pessoais;
  • Culpa e vergonha;
  • Hipervigilância (sente que os outros desejam controlá-la);
  • Medo do desconhecido;
  • Preocupações e pensamentos obsessivos;
  • Isolamento e solidão;
  • Sentimentos de desespero;
  • Risco de suicídio.

 

Agora pare! E pense... Identifica-se com estas características? Conhece alguém que apresente estes comportamentos? Nós podemos ajudá-la (o) se recorrer ao G.P.A.P., garantindo confidencialidade.

 

 

 

 

 

 

A Vênus de Urbino, de Ticiano Vecellio (1538)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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